A arte está presente na vida das pessoas desde tempos imemoriais... mas de maneira mais focada no seu aspecto terapêutico desde o século XIX. Na segunda metade do século XIX a expressão artística chama a atenção de médicos como Max Simon, Morselli dentre outros, que focavam o aspecto patológico das produções artísticas de pessoas em sofrimento psíquico. Entretanto, foi Mohr, em 1906, que fez um importante estudo comparando os trabalhos dos doentes mentais com os das pessoas saudáveis e dos grandes artistas e percebeu a manifestação de histórias de vida e de conflitos pessoais nestas criações. Tal estudo influenciou, mais tarde, o desenvolvimento de testes utilizados pela psicologia, como o Rorschach e TAT (Murray).
À luz da teoria psicanalítica nascente, no início do século XX Freud se interessou pela arte e postulou que o inconsciente se manifesta através de imagens, que transmitem significados mais diretamente do que as palavras. Observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente na produção artística, retratando conteúdos do psiquismo que, para ele, é uma forma de catarse. Para Freud a obra de arte é sublimação de desejos sexuais, impulsos instintivos que não podem ser satisfeitos na realidade e são, portanto, desviados para a produção de algo aceito por esta sendo uma comunicação simbólica com função catártica. A transformação do impulso anti-social primitivo em um ato socialmente produtivo causa um pouco
da gratificação que a realização do impulso original teria proporcionado. Ele observou que o inconsciente se manifesta através de imagens, transmitindo mais diretamente seus significados porque escapam mais facilmente da censura da mente do que as palavras. Porém, foi Jung o primeiro a utilizar a expressão artística em consultório. Para ele, a simbolização do inconsciente individual e do coletivo ocorre na arte. Na década de 20, do século passado recorreu à linguagem expressiva como forma de tratamento e, para tanto, pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras. Priorizava a expressão artística e a verbal como componentes de cura.
Jung afirmou que a criatividade tem uma função psíquica natural, estruturante. Segundo Jung a energia psíquica não muda de objeto enquanto não se transforma. A atividade plástica e a criatividade, para Jung, são funções psíquicas inatas que contribuem com a evolução da personalidade e com a estruturação do pensamento. Mas não foram apenas Freud e Jung que muito contribuíram para a fundamentação da Arteterapia, dois grandes psiquiatras brasileiros também o fizeram: Osório César e Nise da Silveira. Osório César, em 1923, trabalhou com arte no hospital do Juqueri (Franco da Rocha – SP), sob a influência da psicanálise freudiana publicou “A arte primitiva nos
alienados”. Em 1927 publica “Contribuição para o estudo do simbolismo místico nos alienados”, “Sobre dois casos de estereotipia gráfica com simbolismo sexual”. “A expressão artística nos alienados” é publicada em 1929. Trocou experiências com Freud, fez vários estudos, mas, infelizmente, muitos se perderam. No entanto, a Arteterapia transcendeu os estudos psiquiátricos. Margaret Naumburg empregou-a em seu consultório, seguindo os princípios da psicanálise, denominou seu trabalho como “Arteterapia de orientação dinâmica”. Em 1968, ministra cursos de extensão em Arteterapia.
Em 1953, Hanna Yaka Kitkowska em Maryland, inicia um trabalho de arteterapia com grupos e famílias. Já em 1958, Edith Kramer, que nasceu em Viena (1915) também aplicando a arteterapia seguindo a psicanálise freudiana, passou a dar mais importância ao processo do que ao produto final. Priorizando a observação do comportamento durante a execução sem a necessidade de verbalização, acredita que a ênfase no trabalho está na relação transferencial. A lacaniana, Françoise Douto, em 1972, utiliza a arte como meio de comunicação com crianças.
Através de gestos, mímica, desenho, escultura, etc., interage com crianças, até mesmo com as que não falam, procurando desta forma ajudar também no desenvolvimento motor, no raciocínio e no relacionamento afetivo. Utilizando-se dos princípios da Gestalt – Terapia, Janie Rhyne descreve sua experiência e transformações de seus clientes com a aplicação de suas técnicas de fazer arte. Escreve o livro “The Gestal Art Experience” que relata a possibilidade de promover o contato, com os conflitos e reorganizar as próprias percepções através da arte. Natalie Rogers, filha de Carl Rogers, em 1974 aplica os princípios da teoria centrada na pessoa junto ao trabalho
expressivo; pintura, modelagem, expressão corporal, teatro, dança, música, poesia e mímica. Postula que a expressão deve ser verbalizada e compreendida pelo próprio cliente, e não interpretada pelo terapeuta. Denomina este trabalho de Conexão Criativa. Outras teorias mais recentes vêm fundamentando a área, tais como a Gestalt de Perls, o Psicodrama de Moreno, as linhas humanista, sistêmica e transpessoal. A arteterapia, que é o uso da arte como base de um processo terapêutico, propicia resultados em um breve espaço de tempo. Visa estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a
consciência do indivíduo sobre si e sobre sua existência. Utiliza a expressão simbólica, de forma espontânea, sem preocupar-se com a estética, através de modalidades expressivas como: pintura; modelagem; colagem; desenho; tecelagem; expressão corporal; sons; músicas; criação de personagens, dentre outras, mas utiliza fundamentalmente as artes visuais. Enquanto a Arte Educação ensina arte, a arteterapia possui a finalidade de propiciar mudanças psíquicas, assim como a expansão da consciência, a reconciliação de conflitos emocionais, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. A arteterapia tem também o objetivo de facilitar a resolução de conflitos interiores e o desenvolvimento da personalidade.
Por ser bastante transformadora, pode ser praticada por crianças, adolescentes, adultos, idosos, por pessoas com necessidades especiais, enfermas ou saudáveis. Hoje, é exercida em ateliês e instituições com atendimentos individuais ou em grupos.No entanto, para ser um arteterapeuta, é necessária uma formação específica, uma vez que a disciplina fica na interface entre a arte e a terapia. Portanto é fundamental aprofundamento e treinamento prático nessas áreas. Para que o profissional seja reconhecido como arteterapeuta pela associação do estado em que reside, é necessário que curse uma formação ou especialização que possua o currículo mínimo e a carga horária mínima
estabelecida pela União Brasileira de Arteterapia (UBAAT). Os cursos de arteterapia são ministrados para profissionais de diversas áreas, psicologia, pedagogia, psiquiatria, fonoaudiologia, arte-educação, enfermagem, etc., onde cada um insere a arteterapia em sua área de habilitação profissional. A Arteterapia, bem como a bibliografia específica da área, tem crescido consideravelmente no Brasil nas últimas décadas. Arteterapeutas são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Têm conhecimento sobre o potencial curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos, avaliações e pesquisas,
oferecendo consultoria a profissionais de áreas afins. Arteterapeutas trabalham com pessoas de todas as idades, indivíduos, casais famílias, grupos e comunidades. Oferecem seus serviços individualmente e como parte de equipes profissionais, em contextos que incluem saúde mental, reabilitação, instituições médicas, legais, centros de recuperação, programas comunitários, escolas, instituições sociais, empresas, ateliês e prática privada (AATA, 2003 - www.arttherapy.org). A Arteterapia, certamente, contribuirá cada vez mais para a qualidade de vida do homem do século XXI. Em tempos de incerteza acreditamos que a Arte nos ajudará a trilhar um caminho criativo e fecundo.